Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta FavelA...: trabalha desde 2008 em Porto Alegre com Teatro de Rua, Teatro de Vivência e Intervenções Cênicas. Com forte engajamento com movimentos sociais, o grupo coloca na sua estética e linguagem a discussão política sobre questões atuais e pertinentes ao contexto social contemporâneo, fazendo da arte uma ferramenta de discussão social. Ao todo o grupo realizou dezenas de intervenções cênicas e a montagem de dez espetáculos. levantafavela@hotmail.com
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
sábado, 25 de agosto de 2012
domingo, 19 de agosto de 2012
Cambada levanta a favela e desperta crítica social por meio da arte
Rachel Duarte
Inspirado em texto de um dos grandes nomes do teatro alemão, o grupo
gaúcho ‘Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta Favela’ apresenta a
peça Margem Abandonada Medeamaterial Paisagem com Argonautas.
Em cartaz no Mezanino da Usina do Gasômetro, no Centro de Porto Alegre, a
peça é o primeiro teatro de vivência do jovem grupo oriundo da
‘Terreira da Tribo Ói Nóis Aqui Traveiz’. A livre adaptação do texto
homônimo de Heiner Muller poderá ser assistida pela última vez neste
sábado (18), a partir das 21 horas e promete cenas explícitas
denunciando a violência humana e a submissão feminina.
“Algumas pessoas saem assustadas, outras criticam que o que fazemos
não é teatro. Realmente nós propomos outra relação com o público.
Fazemos cenas que despertem os sentidos das pessoas. Eu pesquisei muito a
violência contra a mulher e esta relação dos crimes por paixão. O que
propomos é na verdade uma discussão sobre o ser humano”, explica a atriz
e produtora cultural do grupo, Danielle Rosa.
A intenção do Levanta Favela
é justamente propor ao público uma reflexão. Por meio da arte, eles
expressam as coisas que mais os deixam inquietos e indignados frente ao
mundo. Na mesma proposta da renovação da linguagem cênica que consagrou
mundialmente o ‘Oi Nois Aqui Traveiz’, o grupo não se limita às salas
de espetáculos e faz das intervenções no meio urbano sua principal
identidade.
As peças populares de rua tratam de temas atuais e sempre carregados
na crítica social. “Alcançamos os passantes, os moradores de rua, o
bêbado que quer chamar a atenção mais que a gente. Já a Medea, é um
público que tem condições de sair de casa para ir ao teatro. Geralmente
são pessoas do meio cultural ou que nos conhecem, pessoas que se sentem
tocadas com as peças. A troca é outra”, fala Danielle.
O contraste do colorido do figurino, das maquiagens e a movimentação
dos corpos com gestos e falas são convidativos aos olhos dos
transeuntes. Porém, nem sempre a arte no meio urbano é compreendida,
conta a atriz. O grupo já foi xingado por estar ‘no meio do caminho’ das
pessoas e em outubro de 2010 foi levado pela Brigada Militar após cinco
abordagens durante uma apresentação na Esquina Democrática.
Cambada surge com protesto contra massacre de Eldorado dos Carajás
O improviso e o imprevisto fazem parte do teatro de rua, que tem
natureza livre. Há uma tradição destas intervenções em Porto Alegre, em
função dos primeiros grupos da década de 70. Um dos fundadores do
Levanta Favela, Sandro Marques, se formou nas oficinas do ‘Ói Nóis Aqui
Traveiz’ e é responsável por boa parte da essência do novo grupo de
atores que se identificam como anarquistas.
“Desliguei-me da Terreira em 2007, quando migrei para a Casa do
Estudante. Eu e a Carla Moura coordenávamos uma oficina de intervenção
cênica e passamos a ensaiar com mais algumas pessoas o espetáculo de rua
O Canto da Terra, resgatando a história do Brasil desde a Guerrilha do
Araguaia até as questões da disputa de terra do Pará, que resultou no
massacre de Eldorado dos Carajás”, explica Marques.
Depois desta peça, os atores perceberam que estava fundado um novo
movimento na cidade. Foi só uma questão de acertar o nome, formalizar o
grupo e encarar a dura sobrevivência no mercado cultural. A partir
disso, iniciaram a promoção de oficinas de ação direta e também
ampliaram a produção dos roteiros cênicos para as intervenções nas ruas.
“Nossa preocupação é sempre desenvolver peças que tenham uma história
sustentada pelos atores, mas que permitam a interatividade com o
público que está assistindo na rua. De modo que qualquer um que se
identifique possa entrar na cena se quiser”, diz Sandro.
O teatro como transformação social
A escola de teatro popular oferece diversas oficinas abertas e
gratuitas para a população. Às terças e quintas-feiras, das 14 às 17
horas, o Levanta Favela promove a oficina Teatro em Avanço para o Poder
Popular, na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre. As
atividades são gratuitas para todos os interessados acima de 13 anos.
Nas noites de segundas-feira, o grupo promove oficinas de Ação Direta na
Usina do Gasômetro e duas vezes por mês estudam anarquismo, debatendo
temas com potencial para futuras intervenções.
“A proposta é fazer um debate duas vezes por mês para o grupo pensar
esta postura. Também temos encontros com a Federação Anarquista Gaúcha,
MST, Utopia e Luta e outros. Também participamos de conversas para
discutir o social e o que acontece na nossa realidade agora e que deve
ser alvo urgente de uma intervenção”, diz Danielle Rosa.
A organização do Levanta Favela
é baseada no trabalho coletivo, tanto na produção das atividades
teatrais, como na manutenção do espaço. Cada peça leva um ano de
dedicação e ensaio para ser produzida. Na medida em que os fatos vão
acontecendo no mundo o calendário de intervenções vai engordando e se
repetindo anualmente. “A ideia é perguntar por que não há punição para
os assassinatos de pessoas pobres e tantos outros que já marcaram a
história. A tortura ainda acontece”, contesta a atriz.
“Abaixo os políticos! Abaixo os ricos! E, abaixo à Seleção Brasileira de Futebol!”
Nos quatro anos de existência, o grupo Levanta Favela produziu quatro espetáculos: Canto da Terra (2008), Árvores em Fogo (2009), Margem Abandonada Medeamaterial Paisagem com Argonautas (2010) e Futebol, Nossa Paixão!Pra falar Sobre Política, Futebol e Religião
(2011/2012). O último trabalho é uma crítica as desocupações e impactos
das obras da Copa do Mundo de 2014. O roteiro é uma livre adaptação do
texto “Corinthians, meu Amor” de César Vieira.
Peça Futebol, Nossa Paixão! Pra falar Sobre Política, Futebol e Religião | Foto: levantafavela.blogspot
“Apresentamos torcedores sacrificando-se pelo único prazer de ver o
Brasil ser campeão com seus próprios olhos. A luta entre burgueses e os
favelados, o povo brasileiro contra a Federação Internacional de
Futebol. Mas tivemos o cuidado de levar em conta a delicadeza do tema,
já que o futebol é uma paixão nacional”, explica Sandro Marques. Segundo
ele, nas intervenções de rua, um dos trechos do texto causa desconforto
no público. “Abaixo os políticos. Abaixo os ricos e abaixo a Seleção de
Futebol”. “Quando eu falo as duas primeiras é tranquilo, mas quando eu
falo ‘abaixo a Seleção de Futebol’, dói no coração das pessoas”, conta.
A peça da Copa está rodando o país. Recentemente a intervenção foi
feita dentro da programação da Cúpula dos Povos, evento paralelo à
Rio+20, ocorrido no Rio de Janeiro. Porém, nem todas as viagens dão
frutos para além da troca de experiência. As questões financeiras e os
baixos cachês desafiam os 11 integrantes do Levanta Favela a manter o
grupo ativo com recursos do próprio bolso.
Falta de incentivo e sobrevivência
Cada espetáculo de teatro de sala ou palco custa em média R$ 20
reais, o que pode ser caro para boa parte da população brasileira, mas
rende pouco do ponto de vista da sobrevivência dos atores. “Cada pote de
pancake que utilizamos em todos os integrantes para as intervenções
diretas nas ruas custa R$ 39,00”, ilustra Danielle que é responsável
pela compra dos materiais.
Atualmente o grupo conseguiu se livrar do aluguel da sala para
ensaios porque ingressou no projeto Usina das Artes. A ajuda de custo no
valor de R$ 2,5 mil contribui para as despesas mínimas, mas não é
suficiente para o volume gasto com produção de espetáculos, impressão de
convites, divulgação e logística dos atores. “Até buscamos a Lei de
Incentivo à Cultura, mas os projetos selecionados geralmente têm um
diretor renomado por trás e um clipping de divulgação que os promove.
Além do que, teatro é apenas uma das partes da verba da cultura, que já é
pequena”, lamenta a atriz.
"20 reais é caro, mas pra gente não adianta quase nada", declara Sandro | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Eu acho que quem já está no meio comercial e tem condições nem
poderia receber Lei de Incentivo a Cultura”, critica Sandro Marques.
Segundo o fundador do grupo, as políticas públicas deveriam ser mais
democráticas e universalizar a cultura. “Às vezes há um desconhecimento
dos gestores culturais sobre as nossas necessidades. Os trabalhadores da
cultura é que sabem como gerir a cultura, não o estado. O poder público
tem que dar condições e não ditar o que é cultura”, fala.
“Priorizam eventos ao invés do trabalho continuado, que é o que não
aparece e não rende imagem para as administrações. Grandes espetáculos
recebem uma lista de patrocínios e são grupos que já tem condições de se
pagar. Além do acesso ser caro para a população depois. Quando as
pessoas saem das nossas peças de rua e entendem que a cultura é uma
transformação social, eu fico muito satisfeita”, entusiasma-se Danielle.
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
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